Fatima Campos Ferreira and some Angolan "rich clowns" in leopard chairs - Portuguese Public TV (RTP 1) live from Luanda - Sana Hotel |
Pedro Rosa Mendes' chronicle about about a Portuguese public TV (RTP 1) show licking the boots of the corrupt and blood stained Angolan kleptocrats cost him his job with the same company.
The show illustrates how Angolan low-lives are willing to do anything to buy respectability, and worst, how the current Portuguese business pack and politicians are willing to abdicate dignity.
Shame on them all, the dignity of a proud European Colonial nation cannot be given up by such worms!
The full text is included below (first in Portuguese, the Google translation is included after the original).
“Em directo de Luanda, a RTP serviu nesta segunda-feira aos portugueses e ao mundo – eu vi aqui em Paris – uma emissão a que chamou ‘Reencontro’ e na qual desfilaram, durante duas horas, responsáveis políticos, empresários e comentadores de Portugal e de Angola, entre alguns palhaços ricos e figuras grotescas do folclore local.
O serviço público de televisão tem estômago para muito, alguns dirão para tudo, mas o Reencontro a que assistimos desta vez foi um dos mais nauseantes e grosseiros exercícios de propaganda e mistificação a que alguma vez assisti. Há até propaganda comestível, quando feita com inteligência, mas nem sequer essa bitola foi conseguida, foi permitida, à emissão. A nossa televisão, a televisão paga por todos e que, de certo modo, é um pouco de cada um de nós, afectiva mas também politicamente, foi a Luanda socializar com os apparatchik do regime, nos quais deveríamos reencontrar uma Angola irmã, uma Angola feliz, uma Angola nova.
Aconteceu o contrário. Reencontrei nesta emissão a falta de vergonha de uma elite que sabe o poder que tem e o exibe em cada palavra que diz. Não no conteúdo, mas no tom, seguro, simpático, veladamente sobranceiro. Aquela gente – as divas, os engravatados, os socialites – são. ao mesmo tempo, a couraça e as lantejoulas de uma clique produzida pela história recente de um país que combinou uma guerra de 30 anos e uma riqueza concentrada, basicamente, no petróleo.
Oleocracia, chamou-lhe a socióloga francesa Christine Messiant, falecida faz agora anos, e que identificou como ninguém a natureza do poder de José Eduardo dos Santos, do MPLA, da Grande Família e das suas clientelas. Em poucas linhas, a clique angolana, em torno do Presidente, privatizou o Estado, numa teia de clientes da ‘economia política’ angolana e num aparelho que controla, por um lado, a segurança e o uso da força, e, por outro, as contas vitais da República, como a do petróleo, dos diamantes, do Banco Nacional e do Tesouro.
Os generais e barões da economia política fizeram ganhos astronómicos nas comissões dos contratos de armamento, do petróleo, da manutenção militar, por aí fora, e depois usaram esses recursos em todos os negócios sensíveis, estratrégicos – as empresas de segurança, as companhias de aviação, os sectores das empresas públicas colocados em leasing, as companhias ligadas às forças armadas e à polícia. Um lucro incalculável e, o melhor, legal!
Como bem explicou Christine Messiant, o controlo da economia pelo topo do poder político (juntando as altas patentes e o politburo informal do Partido) usou e geriu a concorrência internacional, beneficiando a conivência, a colaboração ou a assistência de grupos estrangeiros na banca, no sector energético.
É esta, resumindo, a face verdadeira da nova Angola: o novo poder económico é apenas a nova máscara do velho poder político. Uma maquilhagem sofisticada mas óbvia, o bâton da ditadura, parafraseando o grande jornalista Rafael Marques.
Num reencontro digno para ambos os povos e ambas as audiências, teria havido por exemplo Rafael Marques, ou alguém que chamasse à corrupção, corrupção, e não, quase a medo, numa única pergunta, ‘um certo tipo de corrupção’, como fez Fátima Campos Ferreira.
Quem se encontra com a realidade de Angola, encontra a violência brutal nas Lundas diamantíferas, os despojos da guerra civil no tecido social e produtivo, a conflitualidade social latente entre quem tem o mundo e quem não é sequer dono da sua vida, ou a pobreza dos musseques de Luanda, que não desaparecem com o cair do cetim vermelho de um banco como na publicidade que embrulhou a emissão da RTP. Já agora, gostaria de ter reencontrado outros portugueses: os milhares que vão para Angola em fuga de um país sem esperança, o nosso, como se ia nos anos 50, e, como então, enfiados como semi-escravos e semi-reféns à mercê dos seus patrões – agora angolanos – num estaleiro, numa pedreira ou numa fazenda algures fora do alcance das visitas oficiais que chegam a Luanda.
Nesta emissão, enfim, Portugal confirmou que, como antes os nossos colonos, apenas temos a subserviência quando a situação não nos permite o abuso. É no que estamos. ‘Qual o objectivo do investimento angolano no estrangeiro?’, perguntava a jornalista. A resposta foi dada pela própria emissão: respeitabilidade. Luanda apenas compra aquilo que sabe que não tem.”
Pedro Rosa Mendes
English version, using Google translation (may be a bit crude!):
Public service television has the stomach for a lot, some will say to all, but the Reunion we saw this time was one of the most gross and nauseating propaganda exercises and mystification that has ever seen. There's even edible advertising, when done with intelligence, but even that gauge was achieved, was allowed to issue. Our television, pay television and for all that, somehow, is a bit of each one of us, emotional but also politically, was socializing with the Luanda regime apparatchik, in which we rediscover a sister Angola, Angola a happy, a new Angola.
The opposite happened. I rediscovered in this show the shamelessness of an elite that knows the power it has and displays it in every word it says. Not in content but in tone, safe, friendly, overlooking covertly. Those people - the divas, the suits, socialites - are. at the same time, the breastplate and spangles click produced by a recent history of a country that has combined a 30-year war and a wealth concentrated primarily in the oil.
Oilcracy, called it the French sociologist Christine Messiant, who died years ago now, and that anyone identified as the nature of the power of Jose Eduardo dos Santos, the MPLA, the Great Family and their clienteles. In a few lines, click the Angolan around the President, privatized the state, in a web of clients 'political economy' in Angola and an apparatus that controls the one hand, security and use of force, and secondly, the critical accounts of the Republic, such as oil, diamonds, the National Bank and the Treasury.
The generals and barons of political economy made astronomical gains in commissions from arms deals, oil, maintenance of military out there, and then used these resources in all business sensitive estratrégicos - security companies, the airlines the sectors of public enterprises placed in leasing, companies linked to the armed forces and police. An untold amount of profit and, above all, legal!
As well explained Christine Messiant, control of the economy at the top of political power (and joining the upper echelons and the Party's informal Politburo ) used and managed the international competition, benefiting collusion, collaboration or assistance from foreign banking groups in the sector energy.
This, in short, the true face of the new Angola: the new economic power is just another mask of the old political power. A sophisticated but obvious makeup, the lipstick of the dictatorship, to paraphrase the great journalist Rafael Marques.
A reunion worthy of both peoples and both audiences, there would have been for example Rafael Marques, or someone to call corruption, corruption, and not, almost fear, a single question, 'a certain kind of corruption', as did Fatima Campos Ferreira.
Who meets the reality of Angola, meets the brutal violence in the Lunda diamond, the spoils of the civil war in the social and productive fabric, the latent social conflict between those who have the world and who is not even master of his life, or poverty the slums of Luanda, which do not disappear with the fall of a bank of red satin and wrapped in advertising that the issuance of the RTP. By the way, I have rediscovered other Portuguese: the thousands who go to Angola on the run from a country without hope, ours, as people would go in the 1950s, and since then, stuck as semi-slaves and semi-hostages at the mercy of their employers - now Angola - a construction site, a quarry or on a farm somewhere out of reach of official visitors arriving in Luanda.
In this show, finally, Portugal has confirmed that, as our colonists before, we have only subservience when the situation does not allow the abuse. It's what we are. 'What is the purpose of the Angolan investment abroad?', Asked the journalist. The answer was given by the very issue: respectability. Luanda just buys what it knows it does not have. "
Pedro Rosa Mendes
About Pedro Rosa Mendes:
Pedro Rosa Mendes - Portuguese journalist |
As a reporter he covered conflicts in Angola, Rwanda, Zaire/DRC, Western Sahara, Guinea-Bissau, Sierra Leone, Liberia, the Ivory Coast, Afghanistan and the former Yugoslavia, winning Portugal’s Bordalo Prize for Print Journalism in 2000.
Between 2007 and 2009 he was posted in East Timor as Dili correspondent for the Agência Lusa de Notícias (the official news agency of Portugal), before becoming the agency’s correspondent in Paris, where he currently lives.
Mendes’s works of fiction include Baía dos Tigres (Bay of Tigers: A Journey Through War-torn Angola), which won the PEN Club Fiction prize; Atlântico (Atlantic); and Lenin Oil, which was a collaboration with illustrator Alain Corbel. His books of reportage include Ilhas de Fogo (Islands of Fire), Madre Cacau–Timor (Mother Cacau–Timor), and Schwarz Licht, Passagen durch Westafrika (Black Light–Journey through Western Africa) with photographs by Wolf Böwig.
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